Cine-Teatro Turim: exemplo de más práticas

Cine-Teatro Turim: exemplo de más práticas

16 de Novembro de 2023 0 Por José Antunes

No mês passado, após sucessivos adiamentos, o Cine- Teatro Turim reabriu ao público e fui visitá-lo. Ainda no exterior, aparece agora uma área de esplanada totalmente nova, mas comecei por hesitar em entrar no espaço.

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● O piso à superfície é agora totalmente ocupado por um restaurante, fazendo com que quem entre tenha que atravessar uma área com mesas e um balcão.

A entrada para o corredor deu- -me a sensação de entrar pela cozinha adentro. Para um espaço que se pretende de interesse e serviço público, está longe de ser convidativo. Ainda assim avancei para o único refúgio que conseguia avistar e que a memória não esquecia, as escadas para o piso inferior. Às vitrines voltaram cartazes de filmes populares e as várias lojas que existiam deram lugar a um único espaço onde nada parece ter sido feito, mas que alberga agora um snack-bar e máquinas de arcada.

Há ainda uma pequena sala vocacionada para exposições. Existe um esforço em tentar comunicar uma estética retro, mas tudo parece uma amálgama de lugares-comuns, uma construção artificial desenraizada do espaço, um pouco como ‘feiras medievais’ no Parque Silva Porto. Portanto, não posso dizer que tenha ficado menos decepcionado com o que observei na cave.

Vendo as plantas de implantação presentes no concurso para concessão de restaurante e bar, que foram lançados no fim de 2022 mas que só recentemente vi, confirma-se que o espaço de cultura e arte, supostamente devolvido à Freguesia, é essencialmente e maioritariamente um espaço de restauração.

Assim, é natural que questione a pertinência do investimento de mais de 500 mil euros, valor avançado no jornal da Junta de Freguesia (JFB). Também desconheço qual é a relação contratual da JFB com a Associação Menino da Lágrima, que assume a curadoria do cinema e de outros eventos culturais no piso inferior. Tendo levado algumas destas observações à última reunião da Assembleia de Freguesia de Benfica, foi-me dito que conseguiria encontrar resposta a estas questões no portal BASE (plataforma online onde são divulgados os contratos públicos).

No entanto, após consulta, apenas foi possível encontrar despesas relacionadas com o Teatro Turim no valor aproximado de 165 mil euros, que inclui empreitada, elevador, renovação e equipamento do auditório entre outras despesas, mas bem distante do custo de que a Junta divulgou. Também não há qualquer contrato registado com a referida Associação, muito menos se desconhece qualquer concurso ou fundamentos para a seleccionar para este projecto.

Apenas um pequeno exemplo de más práticas no que toca a transparência dos procedimentos públicos, tema que levaria a uma discussão mais prolongada. Quanto à programação, é ainda cedo para se perceber o que este espaço pode trazer de distinto e o que acrescenta a Benfica e à cidade, mas o desenho e as atribuições de espaço que já vigoram em nada ajudam a torná-lo convidativo.

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