
Real desportivo de Benfica: entrar no paraíso!
15 de Novembro de 2023A 22 de Dezembro de 1978, surgia na freguesia o Real Desportivo de Benfica, um clube que deixou boas memórias. Pristas, o treinador por paixão e professor na Escola Secundária D. Pedro V, foi a alma da colectividade, como se depreende do relato que publicamos de Jorge Belo.
Tempo de leitura

● O meu amigo António Luís disse ao treinador do Real Benfica que conhecia um jogador rápido. O Prista, assim que ouvia falar num jogador rápido, espetava as orelhas como um cão quando ouve o dono. E lá fui eu a um treino de captação do mítico clube de Benfica dos anos 70 e 80.
Numa pista lateral do campo do Magistério, para testar a minha velocidade, o míster colocou-me a correr com o jogador mais veloz da equipa, que era o avançado Dani. Ganhou-me, mas foi por pouco. O Prista dava primazia aos titulares, mas o Dani era o “aí jesus”.
Um dia, com todos sentados no chão, saiu-se com esta: “Daniel, já foste tratar dos dentinhos?” Se ele desse um espirro, o Prista levava as mãos à cabeça e tinha um ataque cardíaco, no mínimo. A seguir, fizemos um jogo treino, em que marquei dois ou três golos. No fim do jogo um colega veio ter comigo e disse-me: “deixei-te marcar aquele.” Fiquei surpreendido, não tinha dado por nada, mas acreditei piamente. Mais tarde, constatei que ele (Manarte) era o melhor jogador da equipa, um talentoso meio-campista esquerdino, muito competitivo.
Titulo teste
Quando joguei andebol no Benfica, num jogo que fizemos em Almada, o adversário que me estava a marcar, às tantas, aponta-me para os pés e diz-me: “estás fora”. Tinha-me distraído e estava para lá da linha lateral.
No desporto, as minhas grandes jogadas, os meus grandes golos, as nossas grandes vitórias, evolaram-se no tempo, o que me ficou foram estes gestos de humanismo. Que vontade tenho eu agora de abraçar estes rapazes!
Se nas escolas estive sempre entre os melhores, e quase sempre o melhor marcador, cedo vi que o futebol de onze não era para mim. Um dos motivos foi a falta de liberdade.
Num treino, recebi uma bola e passei- -a de primeira a outro. “É isso!”, gritou o Prista. Mas que grande substância essencialmente constituída pelos pro- dutos que não foram absorvidos no tubo digestivo e que depois é lançada para o exterior. Então, dei um toque na bola e só voltei a tocar nela uns dez minutos depois, e isso é que era muito bom?
Por feitio e educação, pouco interagi com os miúdos da rua, sofrendo até um certo bullying. Certo dia, a chegar a casa, vindo da escola, ouvi um grito: “Real!”. Jogar no clube branco e vermelho dava estatuto, comecei a ser visto com outros olhos. Quem gritou, vim a saber há pouco, já faleceu, infelizmente.
Mas havia outra grande vantagem, que era ir ver jogos profissionais sem pagar, sobretudo ao Estádio da Luz. E assim me deliciei a ver os craques do Benfica: o luvas-pretas João Alves, o Shéu, o Chalana, o Carlos Manuel, o Humberto, as cambalhotas do Folha, e o elegante e letal Nené, sempre com os calções impecavelmente brancos.
Antes disso, íamos para os estádios e ficávamos à espera da boa vontade dos porteiros. E lá íamos ouvindo os “bruás” das oportunidades perdidas e os festejos dos golos.
Quando nos deixavam entrar, geralmente a cerca de dez minutos do final, quando via aquele verde da relva entrava no Paraíso!…
Actualizado em




Este artigo vale:
Agradecemos o seu contributo para uma imprensa local autónoma, independente e livre.
Donativo
Que boas recordações me trouxeram este artigo! Joguei no Real Benfica entre 1979 e 1982. A foto a cores de equipa foi tirada no Estádio da Tapadinha (ao fundo ainda se lê parte de “Atlético Clube de Portugal” no jogo da final do campeonato de infantis, que acabámos por ganhar (creio que terá sido em 1982). Tenho essa mesma foto partilhada no meu Facebook. Sou o 4.º em pé a contar da direita (Nuno Gervásio). Mantenho contacto com o Carlos Pedro Antunes (6.º em pé a contar da direita) e, há alguns meses, reencontrei o Amarildo (2.º em pé a contar da direita). Desta equipa, também lembro bem do Paulo Morais (1.º em pé a contar da direita), do Telmo (3.º em baixo a contar da direita – era o nosso goleador), do Nuno (4º em baixo a contar da direita) e do Joca (5.º em baixo a contar da direita – guarda-redes). Na foto que surge no meio do texto temos o nosso Luís Prista com o seu casaco típico. Muito antes do Mourinho fazer sucesso em Londres com o seu sobretudo já o Prista passeava o seu casaco azul pelos campos pelados da nossa Lisboa. Lembro, também, muito bem do primeiro treino e do teste de velocidade na lateral do campo do Magistério. Fui testado com o Paulo Morais. Na época, o mais rápido da equipa. Fiz 2 ou 3 sprints com ele. Lembro que consegui ganhar o último sprint e ganhei imediatamente algum respeito. O Prista era um treinador apreciador do jogador rápido e do futebol de primeiro toque. Como ele dizia “jogávamos à Inglesa”.