Entrecampos: arquitectos contra jardim

Entrecampos: arquitectos contra jardim

5 de Outubro de 2023 0 Por Diana Correia Cardoso

O desenho dos espaços verdes que integram o projecto da urbanização que vai nascer nos antigos terrenos da Feira Popular foi alterado. Os arquitectos Siza Vieira, Souto de Moura e Ana Costa criticam a versão definitiva dos jardins que valorizam as galerias comerciais em detrimento do usufruto dos cidadãos.

● O projecto para os antigos terrenos da Feira Popular, que integram a Operação Integrada de Entrecampos (OIE) pertencente à seguradora Fidelidade, foi modificado para “favorecer a interacção com os consumidores e não para levar os cidadãos a manterem uma dinâmica com o espaço público”, segundo os arquitectos.

 A versão final é “totalmente diferente” do que haviam idealizado. Há um favorecimento do “contacto visual com as lojas a instalar a partir da Avenida da República, prejudicando uma fruição dinâmica das pessoas com o espaço público”, dizem.

“O que vamos ter ali é um novo Colombo”, assegurou Ana Costa, responsável pela coordenação do projecto residencial, que inclui o edifício de 18 andares de Eduardo Souto de Moura e os dois prédios de Álvaro Siza Vieira, todos destinados à habitação. “Como está, fica muito mais virado para dentro e não tão relacionado com o exterior, como havíamos idealizado”, diz Álvaro Siza Vieira que se dedicou também à concepção dos espaços verdes dos terrenos adquiridos pela seguradora Fidelidade em hasta pública.

Relação com a Avenida da República em causa

Em causa está a eliminação de um talude em contiguidade à Avenida da República, que culminava num espaço pedonal e a acentuação da inclinação do terreno. Além disso, a “bossa” que tapava o interior do jardim onde se encontram as lojas e os restaurantes também foi suprimida, com o intuito de os deixar à vista.

O terreno deixará de ser uma continuidade do jardim do Campo Grande para se transformar numa “montra”. Segundo Siza, o objectivo era “estabelecer o diálogo com a cidade” através dos espaços verdes. “As diagonais favorecem o percurso, abrem o espaço à cidade, não a fecham, sendo um núcleo de onde irradiam relações”, conclui.

Os arquitectos foram convidados em 2014 pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) para a elaborar os prédios residenciais e o espaço público. Sendo da sua autoria as imagens iniciais dos edifícios reveladas publicamente em 2018 na apresentação do OIE. Mesmo depois da Fidelidade ter adquirido os terrenos, Siza e Moura voltaram a ser convidados para trabalhar no projecto das residências.

Os profissionais tentaram também por concurso ficar responsáveis pelos lotes de escritórios e comércio. A proposta do atelier internacional KPF, que concorreu em parceria com o Saraiva + Associados, acabou por ser a escolhida. Quando foi revelado o resultado do concurso Siza, Moura e Costa tomaram conhecimento de que o desenho dos espaços verdes foi modificado.


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