
Dinossauros: pegadas da Parede incógnitas
26 de Junho de 2023As pegadas de dinossauros descobertas na praia da Parede, pela paleontóloga Vanda Santos em 2014, carecem de um plano de musealização. A proposta de classificação como imóvel de interesse municipal caiu em saco-roto. Para quem passa pelo local trata-se de pequenas poças que permitem as crianças brincarem com água, não existindo qualquer informação ou sinalética do local.

● Desde Novembro de 2011, Vanda Santos defende que “a jazida com pegadas de dinossauros da Praia da Parede constitui uma fonte de informação paleobiológica e paleoecológica sobre o grupo Dinosauria no trânsito Cretácico Inferior – Superior, que em muito contribuirá para melhorar o conhecimento deste grupo de vertebrados no contexto paleontológico e paleoicnológico ibérico e europeu”.
Valor educativo
No “Relatório preliminar para informar sobre o interesse científico, patrimonial, pedagógico e cultural”, a investigadora sublinha que “do ponto de vista do Património Natural, a jazida em apreço é um bem natural com óptimas características para ser enquadrada no âmbito de um exo-museu e, tal como outras jazidas congéneres, tem o potencial para desempenhar um papel importante nas estratégias de geoconservação que visam a protecção do Património Natural”.
Segundo Vanda Santos, “a par do seu interesse científico e patrimonial é de distinguir o seu interesse pedagógico e cultural, uma vez que as jazidas com pegadas de dinossauros se consideram locais privilegiados para o ensino da Geologia, em geral, e da Paleontologia, em particular”, defendendo que a “jazida da Praia da Parede poderá constituir um local de educação, de lazer e de divulgação científica, harmonizando-se inteiramente a sua vertente científica e patrimonial com a pedagógica e cultural”.
As pegadas de dinossauro na praia da Parede têm um “elevado valor científico, patrimonial, pedagógico e cultural” e um potencial turístico que justifica a sua valorização municipal.
Para a investigadora, é necessário “assegurar a protecção administrativa e as condições jurídicas básicas para o desenvolvimento de um projecto de estudo, valorização e divulgação” da jazida da Parede “de modo a obter os dados indispensáveis à realização de uma memória descritiva que deverá acompanhar uma eventual proposta de classificação deste bem pertencente ao Património Natural”.
Proposta classificação da jazida
Neste sentido, foi proposta à Câmara Municipal de Cascais (CMC), a classificação deste património como imóvel de interesse municipal e a sua contextualização com painéis interpretativos. Mas até hoje pouco ou nada foi feito. A falta de um plano para a musealização do local e a ausência de uma sinalização adequada na área geram preocupações quanto à conservação daquelas valiosas marcas do passado. Por vezes, são organizadas visitas guidadas ao local como por exemplo a que foi realizada no Dia Mundial dos Oceanos, 8 de Junho, organizada pela ‘Cascais Ambiente’
Desde a confirmação da sua descoberta, em 2014, até ao presente, não existem informações sobre a criação de um roteiro cultural para destacar e promover essa descoberta paleontológica, nem existe qualquer indicação no local para orientar os visitantes sobre a presença das pegadas de dinossauros.
O ‘FREGUÊS DE CARCAVELOS PAREDE’ solicitou à CMC informação sobre este tema e sobre as medidas que pretende desenvolver em relação à protecção e conservação deste património sem sucesso.
A suspeita inicial
Tudo começou em 2014 com um alerta de Alberto Cupeto, da Administração da Região Hidrográfica do Tejo, para a possibilidade da existência de pegadas de dinossauros na praia da Parede. A chamada de atenção despertou a curiosidade de Vanda Santos, investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa e frequentadora da praia.
Com surpresa foi confirmada a suspeita inicial de um trilho. As pegadas foram prontamente identificadas numa pequena área nas lajes sub-horizontais perto do paredão, estendendo-se desde o solário até Oeste.
Na altura, em declarações ao ‘sapo.pt’, Vanda Santos explicava que “três pegadas seguidas são o suficiente para existir uma pista que é um pé esquerdo, um pé direito, um pé esquerdo”, acrescentando que “não estão aleatoriamente espalhadas e têm a ver com a altura da perna do dinossauro”. No caso da praia da Parede, “até parece que há um passo um bocadinho maior do que o outro”, o que é normal: “faz parte desta biomecânica”, esclarecia. “Bastava que este dinossauro tivesse um pescoço, que é comprido, mais virado para a direita para ter de compensar aquele movimento”, afirmava.
Essa jazida de pegadas de dinossauros na Praia da Parede é considerada uma fonte crucial de informações paleobiológicas e paleoecológicas sobre o grupo Dinosauria durante o período que abrange o Cretáceo Inferior e Superior.
A descoberta não passou despercebida à edição portuguesa da revista ‘National Geographic’ que logo em 2014 publicou um artigo sobre o tema. A investigadora referiu que “provavelmente, nunca saberemos concretamente qual o animal que produziu os trilhos, mas sabemos que este se tornou o registo mais recente de saurópodes em Portugal e um dos poucos trilhos europeus conhecidos de idade albiana”. As pegadas têm entre 40 e 50 centímetros e têm mais de 100 milhões de anos e formam um trilho produzido por dinossauros semelhantes ao Diplodocus.
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