
Cine-teatro Turim: pode um espaço ser um lugar?
7 de Junho de 2023‘Pode um espaço ser um lugar?’ É uma pergunta que atiro para o anunciado espaço ‘Cine-Teatro Turim’. Defino espaço enquanto existência material (paredes, tecto, divisões, cadeiras, etc.) e lugar como o espaço que é vivido, com identidade e património de vivências, relações e cultura.

● Se o Turim se pode tornar um lugar, é algo que só o tempo o dirá. Para já, tenho dúvidas quanto ao suposto legado de memória que o leve a ser considerado património.
Em finais de Outubro do ano passado, o Turim reabriu durante um fim-de-semana para um evento com algumas actividades artísticas, com uma toada estética revivalista dos anos 80. O anúncio de um concurso público para a exploração de um bar em Fevereiro, e a recente aprovação pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) de um contrato de cooperação com a JFB, materializado num apoio de 150 mil euros para a reabilitação do espaço, sinalizam que a reabertura do Turim deverá estar próxima.
Esta dotação da Câmara aparece inserida no programa “Um Teatro em cada Bairro”, e deverá financiar parte do caderno de encargos de reabilitação do espaço, que a JFB avaliou rondar os 400 mil euros.
Como referi, creio que o Turim não carrega nenhum património. Eventualmente, poderá trazer algum saudosismo a quem o frequentava, principalmente no período em que foi cinema. Mais importa pensar no que este espaço pode ser. E voltando à pergunta inicial, a resposta dependerá do que se propõe para o espaço, da regularidade e qualidade da programação, e da capacidade de dar ao Turim uma singularidade que o distinga de outros equipamentos culturais. Para espaços subaproveitados já temos o auditório Carlos Paredes. Não faz certamente sentido pensar num espaço para grandes eventos, até pela sua reduzida dimensão, nem pensar em replicar o que certamente outros lugares terão condições para fazer melhor. Também há uma diferença significativa entre Cultura e Espectáculo, algo que muitas vezes os poderes públicos esquecem, valorizando o espectáculo e entretenimento sobre tudo o resto, o que é particularmente evidente em Benfica durante o mês de Junho.
A própria ideia de ‘um teatro em cada bairro’ é bastante superficial, pois mais do que o aparecimento ou reaproveitamento de espaços, importa o desenvolvimento de políticas culturais que apoiem a criação artística.
Apesar das reservas, espera-se que este investimento seja rentável, não financeiramente, mas em património de cultura e vivências que permita olhar para o Turim como um lugar.
Este artigo vale:
Agradecemos o seu contributo para uma imprensa local autónoma, independente e livre.
Donativo






