
Bruno Frazão ensaia marcha de São Domingos
5 de Abril de 2023Bruno Frazão, um setubalense de gema, é o ensaiador da Marcha de São Domingos de Benfica que este ano vai ser a primeira a descer a Avenida da Liberdade. O projecto promete ser ‘fora da caixa’ e encerra os valores da marcha popular da freguesia que vão além da classificação e passam pela inclusão e coesão social.

● Bruno Frazão não é um novato nas andanças das marchas populares. A sua ligação a esta tradição vem desde tenra idade: “sempre estive ligado ao movimento associativo desde pequeno”, revela, influenciado pelos seus familiares que “foram dirigentes associativos”. Seguir a tradição foi uma demanda natural: “a maior parte dos meus pares dedicavam-se ao desporto, enquanto eu tinha um particular interesse pela componente cultural e as tradições”. Corria o ano de 1998, quando começou a envolver-se com as marchas populares em Setúbal, enquanto marchante.
Bruno Frazão confessa que o seu objectivo foi sempre o de “ser o criativo das marchas”. E assim, passados quatro anos, iniciou a sua carreira de ensaiador, coreógrafo, figurinista, cenógrafo e letrista. Em 2022, concebeu a primeira marcha do Clube Recreativo Palhavã, em Setúbal, tendo conquistado um honroso 5.º lugar.
Em 2014, fez a sua primeira “aparição” nas marchas de Lisboa ao vencer a letra da Grande Marcha de Lisboa, ‘Lisboa de Fernão’, com o maestro Artur Jordão. Desde esse ano, escreveu letras para a marcha de Carnide, executou os arcos da Mouraria e foi ensaiador da Marcha da Baixa.
Desenvolver um projecto próprio
Mas o seu sonho sempre foi desenvolver um projecto próprio. A oportunidade surgiu este ano com a Marcha de São Domingos de Benfica. Bruno Frazão já conhecia alguns marchantes da freguesia, muito dos quais participaram em 2022 na Marcha da Baixa.
Então decidiu enviar, por Facebook, uma mensagem à Comissão de Moradores de São Domingos de Benfica. No dia seguinte, foi contactado por Isabel Mendes, presidente da colectividade, que realizou uma reunião na qual foi desafiado “a preparar um projecto com um tema muito interessante e fora da caixa”. E não veio sozinho: a marcha da freguesia também conta com a colaboração do maestro Artur Jordão.
Bruno Frazão considera-se “muito feliz” com esta oportunidade para concretizar o seu sonho. Além de que os marchantes “são pessoas simples, motivadas e com objectivos e formas de ver e estar na vida que se assemelham muito” ao seu olhar e forma de estar na vida. O ensaiador considera-se “muito satisfeito” pela forma como “os marchantes estão entusiasmados, formando um grupo bastante coeso e focado”. Há problemas como em todos os grupos, “mas são prontamente resolvidos por forma a não prejudicar o desempenho da marcha”.
‘Mimos’ da Direcção
Quanto às condições de trabalho, Bruno Frazão sublinha que “da parte da Direcção da associação nada falta à realização do trabalho, pois têm sido inexcedíveis na resposta às solicitações”, acrescentando que “há um certo cuidado da Direcção na forma como se relaciona com os marchantes e toda a sua organização”.
Por exemplo, o ensaiador destaca o “pequeno mimo que a Direcção faz a cada marchante sempre que o seu aniversário coincide com o ensaio da marcha”. Há um bolo e todos cantam os ‘Parabéns‘”.
Para Bruno Frazão, “trata-se de um acto simples, mas com um enorme impacto agregador e que faz com que todos se sintam bem acolhidos e acarinhados”.
Além da classificação
O ensaiador considera que a marcha de São Domingos de Benfica “comparativamente com outras marchas, está a dar os primeiros passos”. Não obstante, “não a impede de caminhar segura e com a certeza que se vai apresentar em competição de forma bastante digna”.
Para este responsável, “o elemento distintivo desta marcha e que vai ao encontro da minha forma de estar, é o facto de todos estarem de corpo e alma dedicados à marcha e despreocupados com a decisão do júri”.
Bruno Frazão garante que “todos ficarão contentes se a freguesia conquistar uma boa posição e tristes se a classificação for menos boa”, mas adianta que “a prioridade não é luta desenfreada pelas classificações”.
O ensaiador confessa que as suas expectativas “são as melhores” e que espera uma classificação justa, realçando que “todas as pessoas envolvidas na marcha se divirtam e divirtam o público, que é o maior júri”.
O ensaiador acrescenta que “a marcha é mais do que um trabalho criativo e competição e tem muito trabalho de integração e inclusão social, de ocupação de tempos livres, de partilha, de salutar convívio, de perpetuar tradições e de fortalecer a ligação ao bairro”.
A ligação ao território e às suas gentes está sempre presente “com a apresentação da marcha, o desfile no bairro, o ensaio aberto à comunidade, o desfile na Avenida da Liberdade, a exibição na Altice Arena, são outros aspectos da visão de uma marcha popular”.
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