Mercado de São Domingos de Benfica: as cinco magníficas

Mercado de São Domingos de Benfica: as cinco magníficas

25 de Fevereiro de 2023 0 Por redacção

São as sobreviventes do Mercado de São Domingos de Benfica, quando era uma centralidade comercial da zona. As cinco resistentes mantém os seus negócios por devoção ao que gostam de fazer e por respeito aos clientes de gerações. Gostam do espaço e investiram dinheiro, sentimento e afectividade nos seus negócios e artes, feitos da tarimba dos dias. São as cinco magníficas



Comerciante: Augusta Dias
Negócio: venda de fruta e legumes
Presença no Mercado: 23 anos

● Augusta Dias, Conceição Cardoso Maria Alice Esteves, Filomena Pereira, Maria Elizabete Rodrigues de Almeida, são as sobreviventes dos tempos de glória do Mercado de São Domingos de Benfica, quando era uma centralidade comercial da zona. As cinco resistentes mantém os seus negócios por devoção ao que gostam de fazer e por respeito aos clientes de gerações. Gostam do espaço e investiram dinheiro, sentimento e afectividade no desenvolvimento dos seus negócios e artes, feito da tarimba dos dias. São as cinco magníficas.

Comerciante: Maria Alice Esteves
Negócio: Salão de Cabeleireiro
Presença no Mercado: 28 anos

● Para Alice Esteves, o Mercado de São Domingos de Benfica “já teve melhores dias”. Moradora há 60 anos na freguesia, recorda o mercado “com muita vida, ao contrário do que acontece nos últimos anos”. A situação actual é péssima: “o MSDB nunca esteve pior”, reforça.
Hoje, o negócio “corre dentro do possível”. A clientela são senhoras mais idosas vizinhas ou dos arredores do mercado. A cabeleira considera que a possível revitalização do mercado “vai exigir um grande esforço da Junta de Freguesia, porque são necessárias muitas obras”. Quanto aos eventos que têm decorrido naquele espaço, não os considera “mais-valias porque não são sistemáticos nem regulares”. Por exemplo, a transmissão do Mundial de Futebol num grande ecrã “não foi um grande sucesso”.
A resiliência em relação ao abandono do mercado advém de “gostar do que faz e “se sentir bem na lojinha que adquiriu em asta pública” e onde investiu a sua vida.

Comerciante: Conceição Cardoso
Negócio: Atelier de vidro e cerâmica
Presença no Mercado: 7 anos

● Conceição Cardoso é conhecida pelo empenhamento na defesa da dinamização do mercado. Teve ligações ao executivo autárquico liderado por António Cardoso e pediu a demissão da Assembleia de Freguesia devido à causa que agora a ocupa diariamente. Desenvolve a sua arte num espaço cedido pela Junta de Freguesia no âmbito da Academia de São Domingos de Benfica, antiga academia sénior. A loja que “era só lixo e paredes”, foi transformada e equipada com fornos de cozer a cerâmica e vidro. No âmbito deste acordo, lecciona aulas a duas turmas da academia, cerca de 20 alunos, às segundas e quartas, não cobrando qualquer verba.
Para Conceição a esperança “é a última coisa a morrer” quanto à reconversão do mercado.

Comerciante: Maria Elizabete Rodrigues de Almeida
Negócio: Confeitaria
Presença no Mercado: 46 anos

● Apesar das dificuldades, Elisabete não pensa em desistir do negócio que tem numa loja que tanto abre para o mercado, como para a rua, permitindo permanecer aberta até às 20 horas, pois o mercado encerra às 14 horas: “sabe porquê? Para me manter viva e sentir activa!”, acrescentando que não tem idade “para ir para casa”. Além de que “gosta do local”.
A clientela são os vizinhos. Quando entrou na loja, que era uma taberna, “só havia um balcão e prateleiras de pedra e lixo”, recorda. A abertura da porta para a rua foi uma iniciativa sua, ainda no “tempo dos escudos”. “Ficou por dois mil contos na altura”, lembra. Ao longos dos anos, já renovou o estabelecimento quatro vezes. Lembra especialmente o que aconteceu no dia 5 de Dezembro de 2009: “Um curto-circuito na máquina de lavar-a-loiça provocou um incêndio que devorou por completo o espaço”. Investiu de novo 75 mil euros para erguer o negócio: “foi começar do zero”, salienta.
Tem dúvidas que o Mercado de São Domingos reconquiste a glória de outros tempos e quanto a promessas da Junta de Freguesia, está na expectativa. “Ver para crer” é a posição de Elisabete que recorda a triste sina do mercado: “Há oito anos atrás, o Executivo camarário classificava o mercado como um ‘cancro’”.
Para esta comerciante, os novos dirigentes autárquicos têm uma visão diferente: “a família de José da Câmara, actual presidente da JFSDB, eram clientes do mercado e os mais antigos conhecem-no desde pequeno”. Apesar deste envolvimento, aguarda a concretização das ideias para a dinamização do mercado. Em jeito de desabafo adianta que “José da Câmara não está a ser bem assessorado neste assunto”.

Comerciante: Filomena Pereira
Negócio: venda de peixe fresco
Presença no Mercado: 38 anos

● Quando acabaram com a bancada da peixaria por causa da transmissão do Mundial de Futebol foi deslocada para um bancada mais perto da entrada, mas que só tem “condições mínimas para a venda de peixe fresco”. Não tem escoamento de águas e o degelo acaba por introduzir impurezas entre a estrutura de metal justaposta à bancada de pedra tradicional do mercado. O ponto de luz da banca também revela a situação provisória deste local. “Prometeram melhorar as condições aquando da destruição da peixaria, mas até agora pouco ou nada aconteceu”, afirma
Resiste aos infortúnios que afectam o mercado porque nunca trabalhou noutro lado e gosta do que faz e de ali estar. A clientela também prende Filomena ao lugar: “ainda tenho clientes da primeira hora e, agora, já vem cá os filhos de antigos clientes que acabam por sustentar o negócio”. Lembra o mercado de outros tempos “cheio de vida e gente” quando aos seis anos de idade, acompanhava os seus pais, também eles comerciantes do mercado onde vendiam peixe e hortaliças. Entretanto, durante a conversa aproxima-se o Senhor Jacinto, um vizinho que veio fazer uma encomenda para o dia seguinte, ao ouvir o relato das lembranças atalhou: “ainda me lembro de a ver a fugir por cima das bancadas!”
Também se mostra apreensiva quanto ao futuro do espaço.

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