
Campo Pequeno: mudança de nome não agrada a todos
23 de Fevereiro de 2023A antiga praça de touros do Campo Pequeno passou a chamar-se ‘Sagres Campo Pequeno’, acentuando a sua nova vocação: espaço multidisciplinar para espectáculos. Por dentro e por fora, a identidade do novo patrocinador oficial está bem patente aos olhos de quem passa na zona. Uma mudança que não agrada a todos.

● Segundo a Sagres, citada pela revista ‘Meios e Publicidade’, o objectivo é “reforçar o apoio e a presença contínua da marca no território da música, eventos sociais e culturais”. Álvaro Covões, gestor do Campo Pequeno e diretor-geral da promotora “Everything Is New”, adianta que “aliar a cerveja Sagres ao Campo Pequeno é uma fórmula de sucesso e concretiza uma parceria orgulhosamente portuguesa, com elevado valor cultural e emocional”. Para este gestor, a nova parceira vai “permitir reforçar a programação neste espaço que é fundamental na cidade e até mesmo no País”, acrescentando que os novos objectivos “consistem em contribuir para o aumento dos hábitos culturais dos portugueses e consolidar Lisboa como um destino cultural”.
A programação de 2023 do Sagres Campo Pequeno tem um cartaz que conta com nomes nacionais e internacionais, como Chico Buarque, Jorge Palma, Pixies, Bárbara Tinoco, Jamie Cullum, Bárbara Bandeira, Yes, Diogo Bataguas, Jim Jefferies ou o musical “Cats”, entre outros.
Chega contra
A mudança de nome foi contestada pelo partido Chega, cujos deputados entregaram na Assembleia da República diversas perguntas dirigidas ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. O grupo parlamentar pretende saber se o governante concorda que “um Monumento com 130 anos de história, classificado como Património Cultural e de Interesse Publico, seja “baptizado” com o nome de uma marca comercial”. Os deputados perguntam ainda a Pedro Adão e Silva “que medidas irá tomar o Ministério de Cultura para defender este Património e corrigir esta situação”. Os parlamentares sublinham que “a Monumental Praça, constitui um dos principais edifícios do neoárabe existentes em Portugal e é hoje um ex-libris da cidade de Lisboa, pelo seu valor cultural e emocional”, salientando que “gerações de aficionados, nacionais e estrangeiros, testemunharam uma parte importante da história da tauromaquia portuguesa nas suas bancadas”. Nesta praça de touros, “actuaram ao longo da sua história os maiores nomes da tauromaquia mundial, seja a cavalo ou a pé, grupos de forcados e muitas ganadarias”.
No documento, afirma-se que “a Praça de Toiros do Campo Pequeno é considerada a Catedral do Toureio a Cavalo mundial”, além de “afirmar-se actualmente como palco das mais diversas expressões artísticas, culturais e políticas, facto só possível após as obras de restauro e requalificação realizadas entre 2000 e 2006”.
A mudança de nome também tem provocado alguma controvérsia nos meios da tauromaquia nacional.
História da Monumental Praça
Datam de 1741, as primeiras referências à realização de corridas de toiros no Largo do Campo Pequeno, ou Alvalade o Pequeno, tendo sido construída uma praça de madeira, com reduzida capacidade para espectadores. Na cidade, existiam outras praças, designadamente Xabregas, Junqueira, Salitre e Campo de Santana.
A actual praça de toiros do Campo Pequeno sucedeu à que existiu no Campo de Santana, inaugurada a 3 de Julho de 1831 e encerrada em 1888, na sequência de uma vistoria que interditou o edifício, por questões de segurança relacionadas com o mau estado de conservação.
A 19 de Fevereiro de 1889, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou uma proposta para conceder à Casa Pia, instituição que ainda hoje detém a exclusividade da organização de corridas de toiros em Lisboa, um terreno para a construção de uma nova praça de toiros, no Campo Pequeno. O edifício, cujo projecto é da autoria do Arquitecto António José Dias da Silva, constitui uma das principais construções em estilo néo-árabe existentes em Portugal.
A praça de touros foi inaugurada a 18 de Agosto de 1892 e o edifício está classificado como Imóvel de Interesse Público, por Decreto de 24 de Janeiro de 1983.
Requalificação abre a novo usos
A praça sofreu profundas obras de restauro no início do século XXI. O seu primeiro anel alterado estruturalmente, passando a ser de betão armado, em detrimento dos arcos de tijolo existentes inicialmente.
O anel exterior manteve-se inalterado a nível estrutural, tendo sido executadas reparações e reforços. A alteração mais significativa foi a cobertura amovível tornando o espaço mais versátil, podendo ser utilizado durante todo o ano para qualquer fim.
Também foi construída uma galeria comercial no subsolo, hoje conhecida como Centro Comercial do Campo Pequeno, e alguns outros espaços comerciais no piso térreo, nomeadamente bares e restaurantes.
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