
Vinho de Carcavelos
8 de Fevereiro de 2023Com uma longuíssima ancestralidade, o vinho de Carcavelos é uma das três regiões demarcadas de vinho generoso em Portugal que continuam a sobreviver no presente. As outras zonas são a da Madeira e o Moscatel de Setúbal. A de Carcavelos é a mais pequena de Portugal e uma das primeiras do mundo. Tem mais de 500 anos.

● Foi criada por um negociante Irlandês no sec. XIV que, pela sua audácia, merece ser aqui lembrado: Sir Paul George. Este estrangeiro, radicado em Portugal, já exportava o vinho da região para as Ilhas Britânicas. Mas, esses seus clientes pediam-lhe um vinho mais adocicado. Ele pensou no modo de aumentar as suas exportações e lançou mãos-à-obra para atingir os seus objectivos. E, como precisava de fortalecer o vinho com o aumento do seu grau alcoólico e, assim garantir a sua longevidade, procurou no País uma aguardente que melhor desempenhasse essa alteração.
Ao que parece, depois de muitas pesquisas, decidiu-se por uma aguardente vínica da Lourinhã. E, para adocicar o vinho, acrescentou-lhe mel. Daí, o vinho ficar da cor do mel. Arranjou, deste modo, o modo de conservar o vinho e contentar os seus clientes. Naquele tempo, não havia os aditivos químicos que hoje desempenham essa imprescindível missão.
As castas têm-se conservado ao longo dos tempos: Arinto, Galego Dourado e Ratinho. O vinho depressa ganhou fama com a procura inglesa, levando, também, os Portugueses a consumi-lo. Primeiro as classes abastadas da Nobreza e do Clero, seguidas da ascendente classe Burguesa.
O vinho começou a ser consumido com frutos secos, derivando, depois, para os queijos de meia cura, hábito que ainda se mantêm e, posteriormente, com os bolos secos e rabanadas, entre outros acompanhamentos. Quando chegou o bolo-rei, disparou mais o consumo.
Agora, degusta-se tanto como aperitivo ou digestivo e deve beber-se a uma temperatura entre os 15.º e os 16.º. A imaginação não parou; o vinho é que parou durante algum tempo, substituído pelo Porto. A Quinta do Barão entrou em decadência mas, presentemente, o vinho está a ser recuperado pelas câmaras municipais de Cascais e Oeiras.
Não sei se terá sofrido alguma alteração na sua fermentação e composição, mas esse aspecto também não me parece o mais importante. O que, realmente, importa é que seja preservado um nome que tem mais de cinco Séculos.
Eu guardo uma garrafa com 60 anos.
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