A Lenda do Chafariz de Carcavelos

● Cheguei a Carcavelos, no já longínquo ano de 1963. Pela primeira vez, tive contacto com esta vila, de dimensão ainda limitada. Era acolhedora, tinha uma bela praia, talvez a melhor de toda a Linha de Cascais.
Naquele tempo já havia algum turismo residual, facultado por residentes que arrendavam, sazonalmente, as suas casas a estrangeiros. A Praça da República era o centro da urbe e local de excelência para algum convívio.
Ali, no lado nascente, já existia a Igreja, onde os naturais, e não só, se baptizavam e se casavam, tal como hoje, embora a Praça esteja completamente remodelada e modernizada. Na Praça, na ala nascente, integrado no casario, já aí existente, havia um chafariz onde a água corria, todos os dias e noites do ano, com um caudal constante.
A água era potável (hoje já não é) e ali, os naturais enchiam os seus garrafões para consumirem em casa. Eu, também passei a ser consumidor, embora ainda não estivesse integrado socialmente.
Um dia, quando enchia o meu garrafão, um dos naturais, que se preparava para fazer o mesmo, perguntou-me se era novo por ali, ao que eu respondi que sim, que era do Alentejo. Entabulámos conversa e ele confidenciou-me uma Lenda: “Todas as pessoas, de fora, que bebam a água deste chafariz nunca mais saem da Terra”. Mas é assim para toda a gente? – perguntei-lhe. A resposta foi imediata: “Não tenha dúvidas, daqui por uns anos, saberá que tenho razão!”
Esses anos foram passando, perdi a juventude, a segunda idade adulta, e cheguei à terceira, a que nos permite pensar. E pensei na Lenda, que me tornou um incondicional de Carcavelos.f

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