
Linha de Cascais: nova electrificação avança
27 de Dezembro de 2022Com anos de atraso, a modernização da Linha de Cascais começou. O plano que ainda não tem fim à vista inclui a requalificação de todas as estações e apeadeiros e a implementação de um sistema digital de informação aos passageiros e de novo sistema de sinalização. Comboios modernos só chegarão no final de 2026. E a alteração da electrificação, com um investimento de 31,6 milhões de euros, vai preparar a integração desta infraestrutura na rede ferroviária nacional, mas para a efectivar ainda faltará a construção do nó de Alcântara.

● A empreitada, que foi consignada com diversos anos de atraso pela IP – Infraestruturas de Portugal no dia 6 de Dezembro, está a cargo do consórcio luso-espanhol formado pela Construções Técnicas Ferroviárias, S.A. e Comsa, S.A. vai demorar dois anos. Estas obras que agora arrancam, estavam previstas para terminar em 2021. Segundo dados oficiais, a Linha de Cascais é uma mais movimentada do País, transportando diariamente cerca de 50 mil passageiros, o equivalente a 1700 autocarros e 55 mil automóveis.
A beneficiação de estações e apeadeiros vai ser um dos aspectos mais notados pelos utentes da Linha de Cascais. A requalificação das estações de Algés, Oeiras, Carcavelos, São Pedro e Cascais, será traduzida num aumento da capacidade para receber comboios. No parque de material circulante de Carcavelos, onde uma parte da frota costuma estacionar, vai ser corrigido um erro antigo, repondo a ligação nascente daquela infra-estrutura que foi retirada há alguns anos, impondo a necessidade de várias manobras dos comboios.
Modernização da electrificação
A Linha de Cascais vai ficar integrada na rede ferroviária nacional, deixando de ser a única onde o sistema de electrificação é de 1,5 kV em corrente contínua, para passar a ser de 25 kV em corrente alternada. Esta alteração estrutural vai permitir a melhoria da gestão da frota (composta por 29 automotoras), pois qualquer comboio eléctrico poderá circular no ramal entre o Cais do Sodré e Cascais. Actualmente, só a estação de Cascais tem a nova catenária pronta, sendo a única que já está apta para receber 25 mil volts.
Em curso está a construção em Sete Rios de uma subestação que deverá alimentar com energia eléctrica toda a Linha de Cascais. A energia eléctrica será transportada por um cabo de alimentação que será enterrado ao longo do canal ferroviário entre Sete Rios a Alcântara. As actuais subestações de Cais do Sodré, Belém, Cruz Quebrada, Paço de Arcos, Carcavelos e São Pedro serão desactivadas. A instalação deste cabo está em fase de preparação de concurso.
Para quando a integração com a rede nacional?
A integração da Linha de Cascais à Linha de Cintura vai tornar possível a criação de quatro ligações por sentido e por hora entre Cascais e o Oriente, criar serviços de Cascais para a Linha do Norte e Linha do Sul. Dados oficiais, preveem que a Linha de Cascais pode ganhar quase seis milhões de novos passageiros, aproximando-se de quase 40 milhões de passageiros por ano, o que a coloca muito perto dos 50 milhões da Linha de Sintra.
Não obstante, no investimento apresentado pela IP não há referências à ligação da Linha de Cascais à Linha de Cintura, um projecto que consta do Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030), orçado em 200 milhões de euros e com prazo de execução entre 2023 e 2027. Na ficha que consta no PNI 2030 prevê-se “um desnivelamento em Alcântara e a criação de uma nova estação subterrânea de Alcântara Terra (e desactivação da existente), com possibilidade de articulação com a futura estação do Metro de Lisboa”.
Outra melhoria estrutural é a construção de oito “diagonais”, cruzamentos que permitem desviar os comboios da linha ascendente para a descendente (e vice-versa), criando mais redundâncias para a circulação, úteis quando há avarias ou interrupções de via. Actualmente, se existir algum problema numa das vias é bem provável que toda a circulação fique bloqueada por não há forma de desviar a circulação das composições.
O Plano de Modernização da Linha de Cascais, que apresenta um investimento que ronda os 100 milhões de euros, tem em curso a construção da Subestação de Tracção Eléctrica de Sete Rios e a instalação de um novo sistema de sinalização eletrónica, que poderá ser controlado a partir do Centro de Comando Operacional de Lisboa e que substituirá os postos de sinalização elétricos e mesas de comando em cada estação.
Esta infra-estrutura ferroviária será uma das primeiras do País a possuir um sistema de sinalização de controlo de velocidade ETCS (European Train Control System), um projecto que está em curso. O novo sistema de sinalização eletrónica, que poderá ser controlado a partir do Centro de Comando Operacional de Lisboa e que substituirá os postos de sinalização eléctricos e mesas de comando em cada estação. Não é a primeira vez que a Linha de Cascais é inovadora: em 1926, foi a primeira linha férrea electrificada em Portugal, 31 anos antes da de Sintra.
Obras em falta
Faltam ainda outras obras para a modernizar a Linha de Cascais. Em preparação estão os lançamentos de diversos concursos. Um deles para a montagem de um novo sistema de informação ao público e videovigilância. Actualmente, esta informação é inexistente na maioria das estações, onde não existem painéis digitais. Só as estações terminais do Cais do Sodré e de Cascais são excepção.
A supressão da única passagem de nível rodoviária da linha de Cascais, em S. João do Estoril, e o desnivelamento de várias passagens para peões são outras obras que vão para concurso.
Novos comboios em 2026
Por parte da CP, está em curso a compra de 117 novos comboios, dos quais 34 se destinam à Linha de Cascais, implicando um investimento de 238 milhões de euros. A decisão sobre qual o fabricante que vai ganhar o concurso deverá ser tomada até Março do próximo ano, sendo as primeiras unidades entregues em finais de 2026. Até lá, os utentes da Linha de Cascais viajarão em velhas composições, algumas das quais com 96 anos, pois algumas das composições que estrearam a electrificação da linha em 1926 ainda são utilizadas, tendo sido renovada para o efeito com a alteração de caixa, motores, rodados, equipamentos eléctricos e interiores, mas manteve-se o “chassis” dessas automotoras.
Embora os novos comboios possam atingir 140 km/h, não vão conseguir atingir esta velocidade devido ao número de estações existentes na Linha de Cascais. Os eventuais ganhos na redução de tempos de viajem tem a ver com a maior aceleração à saída das estações.f
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