
Avenida João Crisóstomo (1811-1895)
21 de Dezembro de 2022João Crisóstomo de Abreu e Sousa foi um militar e político que se destacou pela defesa do ideário liberal, tendo sido uma das figuras importantes do panorama político português na segunda metade do século XIX.

● Mais conhecido por João Crisóstomo, nasceu a 27 de Janeiro de 1811, em Lisboa, tendo sido baptizado como filho de pais incógnitos em 4 de Fevereiro de 1811, dado que os seus pais eram solteiros à data do seu nascimento. O reconhecimento dos seus pais, João José de Sousa e D. Inácia Lima de Abreu, só veio mais tarde. Casou em 11 de Junho de 1838, na Igreja Paroquial de Santa Isabel, em Lisboa, com D. Casimira Lúcia da Rocha Ferreira, de quem teve três filhos. Destino troca as voltas Segundo um dos seus filhos e principal biógrafo, João Augusto de Abreu e Sousa, Crisóstomo gostaria de se ter dedicado ao “magistério e às letras”, mas o destino trocou-lhe as voltas, com a sua educação a realizar-se na área das ciências. Foi aluno no Colégio de Santo Agostinho; cursou, no secundário, a Aula do Comércio (1825-27); foi bacharel em Matemática pela Academia Real da Marinha (1827-29); frequentou ainda as cadeiras de Química e Física na Casa da Moeda (1836) e de Astronomia na Escola Politécnica (1837). Entre 1830 e 1836, João Crisóstomo licenciou-se em engenharia militar na Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, período durante o qual recebeu vários prémios. Não obstante, reprovou no 3.º ano por faltas, uma vez que se juntou, então com 22 anos, às tropas do Duque da Terceira, em Lisboa, a 24 de Julho de 1833. Este episódio assinala dois aspectos que marcaram a sua vida: o militar, na qual chegou ao posto de General, e o político, ocupando diversos cargos públicos. Na carreira militar, foi 2.º tenente (Regimento de Artilharia, 1834) e 1.º Tenente (Corpo de Engenheiros, Arma de Engenharia, 1837).
Na Guerra Civil de 1846-47 juntou-se, em Setúbal, às tropas de Sá da Bandeira, de quem se tornou secretário, sendo feito prisioneiro e mandado para bordo da nau Trafalgar. Crisóstomo demitiu-se em 1847, tendo sido reintegrado, no posto de Tenente em 1849. Percorreu os diversos postos da arma de Engenharia Militar e atinge o posto de General em 1876. Em 1890 foi nomeado ajudante de campo honorário do rei D. Carlos.
Vida ligada às obras públicas
Entretanto, João Crisóstomo serviu na Inspecção das Obras Públicas (divisão do norte), sob as ordens do brigadeiro Silva Poulet em 1937. Entre 1840 e 1845, foi director das Obras Públicas dos distritos do Porto, Braga e Viana. Nos anos seguintes, fez uma comissão na Companhia das Obras Públicas de Portugal (1845-46). Em 1846, e durante cerca de um ano, foi encarregado dos estudos relativos à carta topográfica de Portugal.
Entre 1847 e 1852 desempenhou as funções de director das obras do Canal da Azambuja, ao serviço da Companhia dos Canais da Azambuja, sendo, ao mesmo tempo, membro da comissão encarregada de examinar e dar parecer sobre o projecto de reforma da Escola Politécnica (1851) e membro do Conselho Geral de Obras Públicas e Minas (1852).

Transportes e circulação: a preocupação
A área dos transportes ganharia cada vez mais importância na sua vida profissional. Em 1853, foi fiscal técnico, por parte do governo, da construção da linha do caminho de ferro Lisboa-Santarém-fronteira com Espanha, acumulando com a função de vogal da Comissão Central de Pesos e Medidas. Em 1854 tornou-se director, por parte do governo, da Companhia Peninsular dos Caminhos de Ferro de Portugal, sendo responsável pelo reconhecimento do terreno entre o Sado e o Tejo, para determinar a melhor directriz para a linha férrea de Vendas Novas a Setúbal. Em 1856 viajou, novamente ao serviço do governo, a Inglaterra, França e Bélgica para estudar as vias de comunicação e os sistemas de exploração e administração dos caminhos-de-ferro. Em 1857 assumiu o cargo de administrador geral interino da linha férrea Lisboa-Santarém e, em 1858-59, o de administrador geral do Caminho de Ferro de Leste. Em 1859 foi inspector dos trabalhos de estradas, primeiro, nos distritos do Porto, Braga, Viana, Vila Real e Bragança (Julho de 1859) e, depois, nos de Aveiro, Coimbra, Viseu e Guarda (Agosto de 1859). Em 1860, foi director-geral das Obras Públicas e, até 1866, foi membro de várias comissões: comissão encarregada de examinar, sob os pontos de vista técnico, militar e económico, o local escolhido pela empresa constructora do Caminho de Ferro do Norte e Leste para assentar a ponte sobre o Tejo (1860); comissões encarregadas da reorganização do Colégio Militar e da Escola do Exército (1860, 1862 e1863); comissão para o estudo das obras de encanamento do Mondego e seus afluentes (1863); negociador, por parte do governo, dos termos da rescisão amigável do contrato de 1844 da Companhia dos Canais da Azambuja (1863); comissão encarregada de inspeccionar as secções da linha de caminho de ferro do Norte, antes da sua abertura ao público (1863); vogal da comissão de inquérito à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses (1866). Entre 1866 e 1869 voltou a ser nomeado director-geral das Obras Públicas, cargo que desempenhou em simultâneo ao de vogal do Conselho Geral de Instrução Militar (1867-68). Até 1892 desempenhou, ainda, as funções de vogal efectivo da Junta Consultiva de Obras Públicas e Minas (1871), membro da comissão encarregada de proceder às provas da Ponte Maria Pia (Porto), antes da sua abertura ao público (1877), inspector das linhas férreas do Minho e Douro (1878), vogal (1881) e presidente (1884) da comissão de inquérito à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e também encarregue de propôr os meios para realizar a união entre as linhas do Leste e do Norte (1881), presidente da Comissão Superior de Guerra (1888), presidente do júri de exames de habilitação dos alunos de engenharia civil da Escola do Exército (1889) e presidente da comissão incumbida de examinar as reclamações dos concessionários das obras do porto de Lisboa (1892).
Talento e honestidade
Conhecido por ser um “talento pujante aliado à extrema honestidade”, conforme se escrevia no Diário Ilustrado de 8 de Janeiro de 1895 que noticiava o seu falecimento, João Crisóstomo era “monárquico convicto”, apoiante entusiasta da Carta Constitucional, que, segundo o seu filho, era “o código mais perfeito e liberal que conhecia”. O político adere ao Partido Histórico no qual permanece até 1876 e, depois, no Partido Progressista, tendo sido eleito deputado diversas vezes: por Leiria (1861), por Tabuaço e Leiria (1864), pelo Porto (1865), por Pombal (1870) e por Elvas (1879). Em 1881, é Par do Reino. Entre 16 de Janeiro de 1864 e 17 de Abril de 1865 é ministro das Obras Públicas no gabinete do Duque de Loulé; de 12 de Dezembro de 1864 a 5 de Março de 1865 é ministro interino da Marinha e do Ultramar; de 1 de Junho de 1879 a 29 de Novembro de 1880 é ministro da Guerra; de 13 de Outubro de 1890 a 17 de Janeiro de 1892, é presidente do Conselho de Ministros e Ministro da Guerra, presidindo a um executivo extrapartidário.
Actividade publicista
João Crisóstomo foi ainda sócio-fundador do Grémio Literário (1846), e colabora com numerosas revistas e jornais, entre os quais a Gazeta de Fafe, Desforço, Atheneu, Boletim do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Revista de Obras Públicas e Minas, entre outras. João Crisóstomo faleceu aos 83 anos de idade pelas duas horas da manhã de 7 de Janeiro de 1895, na sua residência, Rua de São João dos Bem-Casados, número 92, encontrando-se sepultado no Cemitério dos Prazeres. O militar e político recebeu diversas distinções: Grã-Cruz da Torre e Espada de Aviz; Grã-Cruz da Águia Vermelha da Prússia; Grã-Cruz do Mérito Militar de Espanha; Comenda da Ordem de Cristo (1855); Comenda da Legião de Honra; Medalha das Campanhas da Liberdade; Honras de Ajudante de Campo de Sua Majestade El-Rei; Carta do Conselho de Sua Majestade El-Rei (1861). Na toponímia da cidade deu nome à Rua João Crisóstomo, mais tarde, com o advento da República, transformada em avenida, sendo uma das principais artérias da freguesia de Avenidas Novas.f
REDACÇÃO
FONTES
https://pt.wikipedia.org/wiki/João_Crisóstomo_de_Abreu_e_Sousa https://pt.wikipedia.org/wiki/Avenida_João_Crisóstomo
http://ciuhct.org/pt/sousa-joao-crisostomo-de-abreu, artigo de Maria Paula Diogo
http://hdl.handle.net/10400.5/632
LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO SEGUNDO JOÃO CRISÓSTOMO
● “Os capitais e a ciência não têm pátria; é sempre boa política convidá-los a concorrer para o progresso do país” defendia João Crisóstomo de Abreu e Sousa. Perante a situação das finanças, consideradas uma catástrofe nacional, o político afirmava a ascendência da preocupação com as “economias permitidas pelas necessidades dos serviços públicos e pelos encargos essenciais da civilização” sobre a dos “melhoramentos materiais”, tornados incompatíveis com a reduzida capacidade financeira do Estado. Neste panorama reservava[1]se uma única excepção, aplicável aos investimentos em curso, justificada pela defesa dos “interesses públicos”. O liberal defendia a liberdade de circulação, nestes termos: “se a produção é acelerada pela circulação da produção, o consumo o é igualmente, aumentando assim a facilidade de cada um satisfazer as suas necessidades que vão crescendo na razão dessa facilidade”. E concluía: “se fosse possível que a circulação parasse de todo, a produção estacava completamente. Por isso, é a actividade relativa da circulação, mais que nenhuma outra circunstância, que constitui a superioridade industrial de um povo a respeito de outro”. E num outro momento, escreveu: “a liberdade não é o fim, mas é um meio, uma condição essencial da mais produtiva aplicação da actividade humana”.f
EM DEFESA DA ENGENHARIA
● A defesa da profissão de engenheiro foi um dos focos de João Crisóstomo que participa na Exposição sobre a necessida[1]de de reforma do corpo dos engenheiros portugueses e num Programa da Associa[1]ção Reformista dos Engenheiros (1848). Esta iniciativa teve como objectivo formar o “Club Reformador dos Engenheiros Progressistas” destinado a “promover, por todos os meios ao seu alcance, uma nova organização do corpo dos engenheiros portuguezes, de sorte que este assuma a posição que lhe compete em Portugal, em harmonia com as necessidades do país e com a ilustração do século.”, segundo o seu biógrafo. A ideia ficou mais ou menos em banho-maria, não havendo notícia do funcionamento do clube, segundo a investigadora Maria Paula Diogo. Em 1869, é criada a Associação dos Enge[1]nheiros Civis Portugueses, com a ideia de “reivindicar o bom nome e reputação dos engenheiros em Portugal”. Abreu e Sousa é sócio-fundador, sendo seu presidente em 1870,1872, 1875 e 1884 e presidente honorário em 1894.f
Este artigo vale:
Agradecemos o seu contributo para uma imprensa local autónoma, independente e livre.
Donativo