Parque Bensaúde: sobreiro mais antigo de Lisboa?

Parque Bensaúde: sobreiro mais antigo de Lisboa?

8 de Dezembro de 2022 0 Por Jorge Alves

A Junta de Freguesia realizou este mês uma intervenção no Parque Bensaúde que deixou o solo enriquecido e as árvores recém-plantadas mais visíveis, graças ao corte de erva que cresceu devido à chuva intensa que se fez sentir. Dias antes, a 19 de Outubro, as pernadas de uma árvore identificada como o sobreiro mais antigo de Lisboa cederam e a árvore “quebrou-se junto ao solo”, segundo divulgou a autarquia. Entretanto, o ‘FREGUÊS DE SÃO DOMINGOS DE BENFICA’ soube que a árvore atingida pelo temporal foi uma azinheira italiana, não um sobreiro, e nem sequer foi arrancada do solo. Entretanto, a informação foi rectificada nas redes sociais.

Confusão entre uma azinheira e o sobreiro histórico que não é classificado

● Todo o arvoredo do Parque Bensaúde já esteve classificado como de interesse público, mas uma nova legislação impôs a sua reclassificação. Na sequência desse processo, para o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), hoje, somente quatro árvores do parque estão classificadas como de interesse público: duas azinheiras italianas, um eucalipto de flores vermelhas e um ácer campestre (este em mau estado fitossanitário e em processo de declínio, segundo o ICNF).
Todavia, no Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA) da Direcção Geral do Património Arquitectónico (DGPA), refere-se que o parque “compreende uma vasta área de prado arborizado onde se situam elementos notáveis, como o maior sobreiro de Lisboa ou a alameda de plátanos de grande porte”.
Ou seja, para o SIPA, o sobreiro ali existente é o maior de Lisboa. Uma informação que fonte do ICNF não foi capaz de confirmar. Esse sobreiro terá quase um metro de diâmetro, aparenta ser muito antigo e poderá mesmo atingir os 200 anos. Mas não é uma das árvores classificadas de interesse público.

Um pouco de história
O Parque Urbano Quinta Bensaúde corresponde à antiga Quinta de Santo António das Frechas, do século XVII, e é constituído por diversos edifícios e um jardim. Originalmente pertenceu à Ordem dos Franciscanos e depois à família Bensaúde, que a vendeu ao Estado em 1980. A venda fez-se por 158 mil contos, abaixo do valor real, pelo facto de os terrenos se destinarem à construção de um Centro Administrativo de Lisboa.

Em 1997, o Estado cedeu o direito de superfície do espaço à Câmara Municipal de Lisboa por 30 anos. Em 2000, a DGPA anunciou “a venda em hasta pública da quinta com a base de licitação fixada em quatro milhões de contos”, um valor baseado “no facto de se tratar de uma zona edificável nos termos do Plano Director Municipal, encontrando-se assim aqueles terrenos abertos à construção”. Como esta operação corresponderia alegadamente a uma alteração dos termos do contrato com a família, foi interposta uma acção contra o Estado e a venda em hasta pública foi suspensa em 2003.
No local foi instalada uma zona de lazer com 3,5 hectares, inaugurada nesse ano por Santana Lopes. Encerrado por dois anos para obras, o espaço reabriu em 2006, para ser novamente encerrado e reabrir em 2008. Em 2013, foi criado o Parque Hortícola Bensaúde, com talhões para agricultura urbana.
Hoje, o parque tem vários equipamentos de lazer, uma cafetaria, uma casa de banho e, segundo o ICNF, quatro árvores classificadas de interesse público. O SIPA refere também que parte da quinta foi adaptada para abertura ao público, de que resultou o Parque Urbano Quinta Bensaúde, mas que outra parte, a oeste, se mantém como privada e “dividida em duas propriedades ligadas por portão”.

Projectos urbanísticos
Em 2017, o ‘FREGUÊS DE SÃO DOMINGOS DE BENFICA’ referia que o Banco de Portugal iria construir a sua sede nos terrenos do parque, onde trabalhariam 1.400 pessoas.
Em 2021 vieram a público notícias, designadamente no jornal ‘Correio da Manhã’ (CM), de que junto ao parque nasceria um empreendimento imobiliário de luxo com habitações para 1.200 pessoas. Uma das apostas deste empreendimento seria a valorização do Parque Bensaúde enquanto área verde de elevado valor paisagístico e patrimonial.
Em causa estaria a construção de edifícios repartidos por cinco quarteirões (um para serviços, dois para habitação e comércio e dois para habitação, comércio e serviços). Um dos imóveis, com acesso à Av. Lusíada e à Estrada da Luz, terá 19 pisos e 60 metros de altura. Os prédios mais baixos, com 18 metros de altura, estarão virados para a estrada da Luz.
Dos 15 hectares em causa, quatro seriam para espaços verdes de utilização pública e quatro para arruamentos e passeios. Existiria ainda um projecto para 243 lugares de estacionamento na via pública e 386 lugares subterrâneos, com saída para a estrada da Luz, referiam as notícias.
Segundo o CM, do Estudo de Impacte Ambiental não decorreriam expectativas de “impactes negativos significativos no Ambiente” depois da construção e entrada em funcionamento do empreendimento.

JORGE ALVES

Este artigo vale:

€0,50
€0,80
€1,00

Agradecemos o seu contributo para uma imprensa local autónoma, independente e livre.

Donativo

Author

Facebooktwitterlinkedininstagramflickrfoursquaremail