Bairro Santos: encerramento de agência da CGD isola população

Bairro Santos: encerramento de agência da CGD isola população

31 de Agosto de 20220Porfreguesredaccao

● “Porque faria isso?” responde um senhor de idade à pergunta de um mais novo: “”Pai, por que não activamos seu banco pela Internet?”. O filho explicou todas as vantagens do homebanking, ao que o pai retorquiu: “Se eu fizer isso, não terei mais que sair de casa?”. À resposta positiva do filho, talvez convencido de que convenceria o pai a aderir às maravilhas dos serviços on-line, o mais velho argumentou: “Desde que entrei neste banco hoje, já vai uma hora, encontrei quatro dos meus amigos, conversei um pouco com o pessoal que me conhece muito bem. Gosto de me arranjar e vir ao banco. Tenho bastante tempo, é o toque físico que anseio”, concluiu. “Agora diz-me: teria o ‘toque humano’ se tudo ficasse online?’, interrogou dando a estocada final na conversa.
O episódio corre na Internet e mostra o valor social do comércio local para os mais idosos, nomeadamente das agências bancárias de bairro.

Encerramento contestado

O encerramento da agência da Caixa Geral de Depósitos (CGD), a única no Bairro Santos, até ao final do mês não está a ser bem recebido pela população e pelos comerciantes. A Agência do CGD localiza-se na Rua Cardeal Mercier, centro deste bairro, a escassos metros do Mercado.
Alguns moradores mobilizaram-se para promover um abaixo-assinado contra o encerramento da agência dirigido ao presidente da Administração da CGD defendendo a manutenção da referida dependência bancária. O grupo ‘Vizinhos das Avenidas Novas’ também divulgou um comunicado no qual considera que o encerramento do balcão “suscitou uma enorme preocupação e profundo descontentamento, em virtude de uma vez mais, esta comunidade local ser desconsiderada com sérias consequências para a qualidade de vida dos seus residentes e do comércio local”.
No texto afirma-se que “o poder local, nomeadamente a Junta de Freguesia e o próprio Município, não podem ser desvalorizados na afirmação pública das necessidades dos bairros da freguesia”, lembrando “o facto da Caixa Geral de Depósitos possuir uma responsabilidade social que deve prevalecer em função do serviço público, ou não seja uma entidade bancária constituída com fundos públicos, sobre a qual tem o Governo uma palavra a dizer”.
Os ‘Vizinhos das Avenidas Novas’ solidariza-se com a população e apoia a Junta de Freguesia, “em todas as iniciativas que visem no imediato, a anulação do encerramento deste balcão, e a exigência de melhorias no serviço que é prestado no âmbito das competências bancárias, ou seja, melhorando o serviço ao invés de o anular definitivamente”.

Autarquia contra

Entretanto, Daniel Gonçalves, presidente da JFAN, reuniu no dia 11 de Agosto, com dirigentes da CGD para analisar a situação. Apesar das preocupações manifestadas pelo autarca, especialmente com os idosos, os moradores e os comerciantes do bairro, o encerramento do balcão é uma certeza.
Segundo a autarquia, a CGD comprometeu-se a manter “em funcionamento – até ao final do ano – os dois terminais de multibanco exteriores, de forma a minimizar os constrangimentos à população”. A JFAN referiu que está em estudo a manutenção destes terminais de forma permanente.
Sem qualquer agência bancária na zona, o Bairro de Santos ao Rego passa a ser servido “pelos balcões da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro e da Avenida Conde Valbom”. A primeira agência dista cerca de 1,5 quilómetros do centro do Bairro Santos e a segunda perto de 2,2 quilómetros.
Em comunicado público, a JFAN já tinha apelado à CGD para que não encerrasse o balcão, face ao facto de ser a única instituição bancária do bairro que serve idosos, moradores, comerciantes e visitantes. “Questões de mobilidade reduzida da grande maioria da população idosa, aliada a uma fraca oferta de transportes públicos, associado a uma baixa literacia digital que se reflecte em menos predisposição mental, disponibilidade financeira e até alguma falta de confiança nas novas tecnologias são alguns dos principais motivos que tornam essencial o serviço de proximidade que presta a CGD através do balcão do Bairro Santos ao Rego”, referiu a JFAN. Recorde-se que o isolamento deste bairro ao centro da freguesia provocado por barreiras físicas, como a linha ferroviária, é um importante obstáculo à mobilidade da população do bairro que tem registado ao longo do tempo a redução da oferta de serviços.

Sindicado: desconhecem-se motivos

Entretanto, a Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC), assinalou que se “desconhecem os motivos” para o encerramento dos balcões, e que a vontade em “reduzir despesas” carrega a “desvalorização da capacidade da CGD enquanto banco público”, apontando que há “um inevitável congestionamento dos restantes balcões dessas áreas”.
O ‘FREGUÊS DE AVENIDAS NOVAS’ questionou a CGD sobre esta situação, mas até ao fecho desta edição não obtivemos qualquer esclarecimento.
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