● Este Outono tornado especial pelas limitações que este vírus nos impõe, torna mais desejável descer às areias da praia com pouca gente por companhia. Temos a profunda convicção que vivemos num dos muitos pontos especiais que Portugal tem.
Esta reflexão leva-me a folhear um livro que nunca se esgota na consulta das suas inúmeras fotos – ‘Carcavelos dos Cinco Sentidos’ (primeiro volume) – no qual se fazem muitas referências do passado e presente deste espaço público. Praia para utilização em conforto e segurança, não é só mar, areia rochas e vento. Porque não é uma ‘praia selvagem’ há quem olhe por nós, só na época balnear.
No referido livro, os amigos Castro & Lourdes, conhecedores do terreno, dão-nos preciosas informações sobre o princípio da ‘praia de banhos’, tendo inclusive em 2008 entrevistado descendentes dos primeiros concessionários desta praia.
Tomé Marques, antepassado dos proprietários do Restaurante Estrela do Mar, será o primeiro concessionário desta praia, nos finais do século XIX, proporcionando sombra e segurança a quem vem a banhos. Barracas alugadas e uma clientela fiel ao longo dos anos desenvolviam uma relação de amizade que se foi perdendo, mas a evolução é isso, com os enormes ganhos dos nossos dias e a saudade de algumas instituições e comportamentos que já não voltam, recordamos com um sorriso o passado.
Os estragos que o vento ou o uso causavam nos panos às riscas das tendas eram reparados na praia e para aí alguém levava uma máquina de costura. Já lá não estão sequer os descendentes desses banheiros que também salvavam vidas, mas ainda sou amigo da Mena e do Zé, descendentes do herói Tomé Marques, o mesmo que numa foto mostra o peito recheado de medalhas e que inclusive teve o reconhecimento da Rainha D. Amélia, nesse final de século.
Hoje são muitos os restaurantes, bares e escolas de surf, mas não vos dou a lista para que o leitor, pelo próprio pé dê um passeio pelo paredão e os descubra. Os tempos são outros, mas o encanto da praia é o mesmo. Bom Outono.f